Bernadete está certa:
“Durante a gestação e a amamentação, desequilíbrios na nutrição materna, tanto a desnutrição quanto a super alimentação ou a exposição a alimentos ricos em gorduras, ricos em açúcares, podem levar ao desenvolvimento de obesidade no filho na vida adulta”, explica a farmacêutica Ísis Hara Trevenzoli, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A tendência à obesidade é adquirida ainda na barriga da mãe. Pesquisadoras das universidades Federal e Estadual do Rio de Janeiro estudaram os efeitos da alimentação de ratinhas no futuro dos filhotes. O metabolismo desses bichos se parece com o de seres humanos.
O estudo comparou duas ratinhas e suas ninhadas. As duas mães tinham o mesmo peso. A partir do momento em que engravidaram, a primeira foi alimentada só com ração saudável. A outra recebeu ração com 20% a mais de gordura. Depois de 21 dias de gestação e 20 dias de amamentação, os pesquisadores perceberam uma diferença grande entre os filhotes. Os da ratinha com alimentação saudável pesavam em média 30 gramas. E os da ratinha que recebeu a ração gordurosa pesavam quase o dobro: em média, 58 gramas.
“Dietas que são ricas em gordura, por exemplo, alteram a composição do leite materno, e um dos hormônios que passa pelo leite a gente já sabe e já demonstrou que é a leptina”, aponta a farmacêutica Ísis Hara Trevenzoli.
A leptina é um hormônio que regula a fome e o gasto de energia. O excesso de gordura no corpo desequilibra a sua produção e compromete sua eficácia. Outros hormônios também são produzidos em quantidade indesejada, como os da glândula tireóide, que ajudam no emagrecimento ao acelerar o metabolismo, e a insulina, que regula a concentração de açúcar no sangue. Sua falta pode levar a diabetes, doenças cardiovasculares e renais.
Quando esse desequilíbrio na produção de hormônios ocorre no início da vida, ele pode ficar registrado para sempre, como na memória das nossas células. Dependendo da alimentação das mães na gravidez, uns vão continuar com a tendência a engordar mais, e outros não, ainda que todos consumissem os mesmos alimentos e tivessem o mesmo estilo de vida.
Essa é a conclusão da pesquisa. Foi assim com os ratinhos. Os filhotes foram acompanhados por seis meses, depois da amamentação, recebendo rações iguais. Os que nasceram da ratinha com alimentação saudável chegaram a 350 gramas, em média. E os da ratinha que recebeu a ração gordurosa alcançaram 515 gramas.
“É como se, através dessa memória, esses indivíduos fossem programados realmente para desenvolver algumas doenças crônicas na vida adulta, mesmo que eles tenham uma alimentação equilibrada”, afirma Ísis Hara Trevenzoli.
O mesmo pode ocorrer com quem passa fome na gravidez. Regimes rigorosos geram outro tipo de programação que pode afetar a produção de hormônios: a necessidade de poupar energia para o caso de faltar comida. “A energia que nós poupamos fica armazenada no nosso organismo na forma de gordura, no tecido adiposo, e vai engordando, ao longo da vida”, diz a farmacêutica.
“As mães devem evitar a alimentação em excesso e principalmente o excesso de gorduras e açucares. Elas devem focar em alimentos saudáveis, uma ingestão rica em fibras, com frutas, hortaliças, uma dieta bastante variada”, destaca a nutricionista Juliana Franco, da Universidade do Estado do rio de Janeiro (UERJ).
O resultado da pesquisa não é uma sentença definitiva. Segundo as especialistas, sempre é possível reverter os quadros de sobrepeso e obesidade perseguindo uma dieta saudável e com exercícios físicos. Bernadete sabe que isso é bom para ela e para o futuro do filho que vai nascer. “Agora, mais do que nunca, vou me alimentar melhor e fazer atividade física para ele crescer bastante saudável e ser um adulto saudável depois. Tenho que garantir o futuro dele bem saudável”, declara a fisioterapeuta.
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